RULE OF RESCUE E ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO BRASIL: O CASO DAS DOENÇAS RARAS

Authors

DOI:

https://doi.org/10.25192/issn.1982-0496.rdfd.v25i21406

Keywords:

Assistência Farmacêutica, Direito Sanitário, Doenças Raras, Medicamentos Órfãos, Rule of Rescue

Abstract

O artigo explora o rule of rescue como um critério para decisões de incorporação de tecnologias em sistemas de saúde. O conceito de rule of rescue é importante na decisão de incorporação de medicamentos órfãos, destinados a doenças raras, casos em que o exame da custo-efetividade das drogas nos parâmetros mais restritos da medicina baseada em evidências, determina a sua rejeição. Propõem-se duas questões: em primeiro lugar, se o rule of rescue exerceu impacto na doutrina produzida no campo do direito sanitário no Brasil, a partir de uma revisão bibliográfica das fontes. Em segundo lugar, investiga-se se a rule of rescue exerceu influência nas recomendações de incorporação de medicamentos pela Conitec, sobretudo no campo das doenças raras, no período compreendido entre 2012 e 2018. Na primeira parte do trabalho, é apresentado o processo institucional de incorporação de medicamentos no Brasil e o tema da incorporação dos medicamentos órfãos. Na segunda parte, parte-se para as questões propostas. A metodologia empregada para avaliar o impacto doutrinário do princípio é a da revisão bibliográfica, focando nos periódicos especializados em direito sanitário no Brasil. Com relação ao segundo problema, buscou-se identificar as recomendações da Conitec que envolviam doenças raras, e, nesses relatórios, foram identificados, no tópico da discussão, a fundamentação da conclusão pela incorporação ou não, buscando identificar a presença do rule of rescue. As conclusões indicam que os fundamentos da incorporação e da não incorporação não levam em consideração nenhuma forma de rule of rescue, o que sinaliza para uma possibilidade de aperfeiçoamento desse processo.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

Voltaire de Freitas Michel, Curso de Direito da IMED – Faculdade Meridional - Porto Alegre

Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS

Professor do Curso de Direito da IMED – Faculdade Meridional

Promotor de Justiça no Rio Grande do Sul

Sandra Regina Martini, Mestrado em Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis/Porto Alegre

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1983), mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1997), doutorado em Evoluzione dei Sistemi Giuridici e Nuovi Diritti pela Università Degli Studi di Lecce (2001), Pós-doutorado em Direito (Roma Tre, 2006) e Pós-doutorado em Políticas Públicas (Universidade de Salerno, 2010). Foi Professora titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, da Scuola Dottorale Internazionale Tullio Ascarelli e professora visitante da Universita Degli Studi Di Salerno. Foi diretora da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (janeiro de 2007 a fevereiro de 2011), foi membro( de janeiro de 2008 a dezembro de 2013) do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Atualmente é Pesquisadora Produtividade 2 ? CNPq, Coordenadora do Mestrado em Direitos Humanos e professora do Centro Universitário Ritter dos Reis (Uniritter), professora-visitante no programa de pós-graduação em Direito da UFRGS (PPGD). É avaliadora do Basis do Ministério da Educação e Cultura e do Basis do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Parecerista ad hoc CNPq e CAPES. Conferencista no Brasil e no exterior. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em sociologia jurídica, atuando principalmente nos seguintes temas: Saúde Pública, Políticas Públicas, Sociologia Jurídica e Sociedade e Direitos Humanos.

References

ASSESSING the societal value in rare diseases by decision makers and patients. University Castilla-La Mancha (UCLM), Spain. AdvanceHTA – Rethinking the future of Health Technology Assessment. Conference, London, 10 nov. 2015. Disponível em: <http://www.advance-hta.eu/PDF/FinalConference/presentations/10-Societal_Value_in_Rare_Diseases_UCLM.pdf>. Acesso em: 01 jul. 2018.

ASSOCIAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DE PESQUISA. Doenças raras: a urgência do acesso à saúde. Interfarma, fev. 2018. Disponível em: . Acesso em: 14 jun. 2018.

BRASIL. Decreto nº 7.646, de 21 de dezembro de 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7646.htm>. Acesso em: 14 jun. 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Plataforma Sucupira. 01 abr. 2014. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/avaliacao/plataforma-sucupira>. Acesso em: 14 jun. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 199, de 30 de janeiro de 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt0199_30_01_2014.html>. Acesso em: 14 jun. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de Recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. Canaquinumabe – Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina (CAPS). Conitec, out. 2013. Disponível em: . Acesso em 31 mai. 2018.

BRASIL. Ministério Público Federal. Ação do MPF requer elaboração de protocolos clínicos para doenças raras. Procuradoria da República no Distrito Federal, 14 mai. 2018. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/df/sala-de-imprensa/noticias-df/acao-do-mpf-df-requer-elaboracao-de-protocolos-clinicos-para-doencas-raras>. Acesso em: 14 jun. 2018.

CIARLINI, Álvaro Luiz Araújo Sales. Análise jurídica dos critérios axiológicos de avaliação de medicamentos pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao SUS – Conitec. Cad. Ibero-Amer. Dir. Sanit., v. 5, n. 1. Brasília, 2016.

COOKSON, R.; MCCABE, C; TSUCHIYA, A. Public health care resource allocation and the rule of rescue. Health Economics and Decision Science Discussion Paper Series, n. 07/04. The University of Sheffield, 2007. Disponível em: . Acesso em: 14 jun. 2018.

DIAS, Eduardo Rocha; SILVA JÚNIOR, Geraldo Bezerra da. A medicina baseada em evidências na jurisprudência relativa ao direito à saúde. Revista Einstein, v. 14, n. 1, jan./mar. 2016, pp. 1-5.

DUARTE, Clarice Seixas; BRAGA, Paulo Vitor Bérgamo. A utilização dos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas e a racionalização da judicialização do direito à saúde. Revista de Direito Sanitário, v. 18, n. 1, pp. 171-190, São Paulo, mar/jun. 2017.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário. Brasília-DF. Disponível em: <https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/index.php/ cadernos/about/editorialPolicies#focusAndScope>. Acesso em: 14 jun. 2018.

GOMES, Luanna de Mendonça. A saúde como objeto de consumo: uma análise sobre as demandas e consultas públicas de incorporação de medicamentos no SUS. Cad. Ibero-Amer. Dir. Sanit., v. 4, n. 4. Brasília, 2015.

HTA and rare diseases: assessing the societal value of orphan drugs. AdvanceHTA – Rethinking the future of Health Technology Assessment. Disponível em: <http://www.advance-hta.eu/wp3.php>. Acesso em: 01 jul. 2018.

HUGHES, D.A; TUNNAGE, B.; YEO, S.T. Drugs for exceptionally rare diseases: do they deserve special status for funding? QJM: An International Journal of Medicine, v. 98, ano 11, pp. 829-836, 01 nov. 2005. Disponível em: <https://academic.oup.com/ qjmed/article/98/11/829/1522301>. Acesso em: 01 jul. 2018.

HUYARD, C. How did uncommon disorders become ‘rare diseases’? History of a boundary object. Sociology of Health and Illness, v.31, n.4, pp.463-477, 2009.

JONSEN, Albert R. Bentham in a Box: technology assessment and health care allocation. The Journal of Law, Medicine & Ethics, set. 1986. Disponível em: <http://journals.sagepub.com/doi/10.1111/j.1748-720X.1986.tb00974.x>. Acesso em: 12 jun. 2018.

KYMLICKA, Will. Filosofia política contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

LLINARES, J. A regulatory overview about rare diseases. In: PAZ, M. P. e GROFT, S. C. (Ed.) Rare diseases epidemiology. 1. ed. New York: Springer, 2010. cap. 12, pp. 193-207. (Advances in experimental medicine biology).

MCKIE, John; RICHARDSON, Jeff R. J. The rule of rescue. Social Science and Medicine, v. 56, ano 12, pp. 2407-2419, jul. 2003. Disponível em: . Acesso em: 01 jul. 2018.

NAGEL, Thomas. Mortal question. Cambridge: Cambridge University Press, 1979, pp. 123-124, apud PARFIT, Derek. Equality and priority. v. 10, n. 3. Oxford: Blackwekk Publishers, 1997. pp. 201-221. Disponível em: <http://individual.utoronto.ca/stafforini/ parfit/parfit_-_equality_and_priority.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2018.

NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CLINICAL EXCELLENCE. Citizens council report: the rule of rescue. Nice: London, 2006. Disponível em: <https://www.nice.org.uk/Media/Default/Get-involved/Citizens-Council/Reports/CCReport06RuleOfRescue.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2018.

NITA, M.E.; NOBRE, M. R. C.; COSTA, A. M. N. Busca da evidência a partir do cenário clínico. In: NITA, M. E. et al (ed). Avaliação de Tecnologias em Saúde: evidência clínica, análise econômica e análise de decisão. cap. 10. Porto Alegre: Artmed, 2010. pp. 147-59.

NOGUEIRA, Karina Pires; CAMARGO, Erika Barbosa. Judicialização da saúde: gastos federais para o Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2011-2014. Cad. Ibero-Amer. Dir. Sanit., v. 6, n. 2, pp. 120-132. Brasília, abr./jun. 2017.

OLIVEIRA, C.R.C. et al. Políticas da 'expertise': doenças raras e gestão das tecnologias em saúde pelo SUS. Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia e Sociedade, São Paulo, v.2, n.2, pp.150-186, jul./dez., 2011. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/6439>. Acesso em: 10 mai. 2018.

OLIVEIRA, Cláudio Cordovil; GUIMARÃES, Maria Cristina Soares; MACHADO, Rejane. Doenças raras como categoria de classificação emergente: o caso brasileiro. Revista de Informação, v. 13, n.1 fev. 2012, artigo 4.

PARFIT, Derek. Equality and priority. v. 10, n. 3. Oxford: Blackwekk Publishers, 1997. pp. 201-221. Disponível em: <http://individual.utoronto.ca/stafforini/parfit/parfit_-_equality_and_priority.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2018.

SMART, J.C.C.; WILLIAMS, B. Utilitarianism: for & against. Cambridge: Cambridge University Press, 1973.

SOUZA, Marcelle de. Gasto com 10 remédios mais pedidos na Justiça para o SUS é de quase R$ 1 bi. Ministério da Saúde. Portal Arquivos. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/maio/15/06042017_Gasto-com-10-remedios-mais-pedidos-na-Justica.pdf>. Acesso em: 01 jul. 2018.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Revista de Direito Sanitário. São Paulo. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rdisan/about>. Acesso em: 14 jun. 2018.

WALDRON, Jeremy. Law and Disagreement. Grã-Bretanha: Oxford UK Pod, 2001.

WÄSTFELT, M.; FADEEL, B.; HENTER, J.I. A journey of hope: lessons learned from studies on rare diseases and orphan drugs. Journal of Internal Medicine, v. 260, p.10, 2006.

WOLFF, Jonathan; DE-SHALIT, Avner. Priority to the least advantaged. In: Disadvantage. Edited by Will Kymlicka and David Miller. New York: Oxford University Press, 2007. pp. 155-166.

Published

28-08-2020

How to Cite

Michel, V. de F., & Martini, S. R. (2020). RULE OF RESCUE E ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO BRASIL: O CASO DAS DOENÇAS RARAS. Revista Direitos Fundamentais & Democracia, 25(2), 28–53. https://doi.org/10.25192/issn.1982-0496.rdfd.v25i21406