DIREITOS FUNDAMENTAIS COMO ABERTURA PARA O PASSADO: DIÁLOGOS ENTRE RONALD DWORKIN E A TEORIA PÓS-COLONIAL

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25192/issn.1982-0496.rdfd.v26i31520

Palavras-chave:

constitucionalismo, direitos fundamentais, moral, pós-colonial, Ronald Dworkin

Resumo

O artigo busca realizar uma aproximação entre teoria constitucional e pensamento pós-colonial, objetivando uma hermenêutica jurídica responsável perante a permanência da violência colonial. Neste sentido, primeiramente os direitos fundamentais na modernidade são caracterizados, especialmente a partir da teoria de Ronald Dworkin, como porta de entrada da moral e, consequentemente, da história no âmbito do sistema jurídico. Seguindo a esteira do teórico estadunidense, trabalham-se as consequências dessa relação íntima entre moral e direito para a hermenêutica constitucional. Em um segundo momento, define-se o pós-colonial e quais contribuições ele pode oferecer para deslocar as narrativas hegemônicas sobre a modernidade. A partir desse movimento, pós-colonial e constitucionalismo são cotejados no sentido de fornecer elementos para uma imaginação moral expandida e mais democrática dos direitos fundamentais. Retomando o pensamento de Dworkin, conclui-se com considerações sobre que tipo de responsabilidade moral temos na escrita do romance jurídico quando o sofrimento injusto e as lutas silenciadas por liberdade e igualdade são alçados ao palco da história constitucional.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcos Vinícius Lustosa Queiroz, Universidade de Brasília

Doutorando em Direito pela Univerisidade de Brasília, com sanduíche na Facultad de Ciencias Humanas da Universidad Nacional de Colombia. Mestre em Direito pela UnB. Integra os grupos Maré - Núcleo de Estudos em Cultura Jurídica e Atlântico Negro; Centro de Estudos em Desigualdade e Discriminação (CEDD/UnB) e Desafios do Constitucionalismo.

Guilherme Scotti, Universidade de Brasília

Professor Adjunto de Teoria e Filosofia do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Mestre e Doutor em Direito pela UnB. Coordena o grupo de pesquisa Desafios do Constitucionalismo e integra o Centro de Estudos em Desigualdade e Discriminação (CEDD/UnB).

Referências

BERLIN, Isaiah. The pursuit of the ideal. In: BERLIN, Isaiah; HARDY, Henry (ed.). The crooked timber of humanity – chapters in the history of ideas. London: John Murray, 1990.

BLUMENBERG, Hans. The Legitimacy of the Modern Age. Cambrigde: MIT Press, 1985.

BUCK-MORSS, Susan. Hegel e Haiti. Trad. Sebastião Nascimento. Novos Estudos, 90, 2011.

__________. Hegel, Haiti, and universal history. USA: University of Pitssburgh Press, 2009.

BUTLER, Judith; LACLAU, Ernesto; ZIZEK, Slavoj. Contingencia, hegemonía, universalidad: diálogos contemporáneos en la izquierda. 2ª Ed. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2011.

CARVALHO NETTO, Menelick de. A Hermenêutica Constitucional sob o Paradigma do Estado Democrático de Direito. In: OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni. Jurisdição e Hermenêutica Constitucional no Estado Democrático de Direito. Belo Horizonte: Melhoramentos Editora, 2004.

CARVALHO NETTO, Menelick de; SCOTTI, Guilherme. Os direitos fundamentais e a (in)certeza do direito: a produtividade das tensões principiológicas do sistema de regras. Belo Horizonte: Fórum, 2012.

CHUEIRI, Vera Karam de. Liberdade e igualdade: a unidade do valor. BARRETTO, Vicente de Paulo; DUARTE, Francisco Carlos; SCHWARTZ, Germano. Direito da Sociedade Policontextural. Curitiba: Appris, 2013.

CORNELL, Drucilla; FRIEDMAN, Nick. The Significance of Dworkin Non-Positivist Jurisprudence for Law in the Post-Colony. Malawi Law Journal, Volume 4, Issue 1, Jan 2010, p. 1-94.

DUARTE, Evandro C. Piza. Do medo da diferença à igualdade como liberdade: as ações afirmativas para negros no ensino superior e os procedimentos de identificação de seus beneficiários. Tese de doutorado no curso de pós-graduação em Direito da Universidade de Brasília, 2011.

DUARTE, Evandro C. Piza; QUEIROZ, Marcos V. Lustosa. A Revolução Haitiana e o Atlântico Negro: o constitucionalismo em face do lado oculto da modernidade. Direito, Estado e Sociedade. Rio de Janeiro, nº 49, jul/dez, 2016.

DUBOIS, Laurent. Avengers of the new world: the story of the Haitian Revolution. USA: Harvard University Press, 2004.

DWORKIN, Ronald. A justiça de toga. Tradução Jeffesron Luiz Camargo. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

_______. A raposa e o porco-espinho: justiça e valor. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014.

_______. Is democracy possible here?: principles for a new political debate. Princeton, New Jersey, USA: Princeton University Press, 2006.

_______. Levando os direitos a sério. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010,

_______. Objetividade e verdade: melhor você acreditar. Universitas JUS, v. 24, n. 3, p. 1-31, 2013.

_______. O império do direito. Tradução Jefferson Luiz. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Trad. Enilce Albergaria Rocha, Lucy Magalhães. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2005.

_______. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

FARRANHA, Ana Claudia; DUARTE, Evandro Piza; QUEIROZ, Marcos V. Lustosa. Racismo e Constituição: o caráter estrutural da opressão racial e suas consequências jurídicas. In: Acusações de racismo na capita da República: obra comemorativa dos 10 anos do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do MPDFT. Coordenador Thiago André Pierobom de Ávila. Brasília: MPDFT, Procuradoria Geral de Justiça, 2017.

FAUSTINO, Deivison Mendes. Por que Fanon? Por que agora?: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil. Tese de doutorado apresentada no programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos, 2015.

FICK, Carolyn. The making of Haiti: the Saint Domingue Revolution from below. USA: The University of Tennessee Press, 1990.

GADAMER, Hans-Georg. Verdad y Método. 9ªed. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2001.

GARGARELLA, Roberto. Interpretando a Dworkin. Artículo presentado en el Seminario de profesores del ITAM, México DF, enero de 2015,

GILROY, Paul. Entre campos: nações, cultura e o fascínio da raça. São Paulo: Annablume, 2007.

________. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Trad. Cid Knipel Moreira. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012.

GUIMARÃES, Johnatan Razen Ferreira; QUEIROZ, Marcos V. Lustosa. Frantz Fanon e Criminologia Crítica: pensar o Estado, o direito e a punição desde a colonialidade. Revista Brasileira de Ciências Criminais, 2017.

HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: ensaios de teoria política. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

________. Direito e moral. Trad. Sandra Lippert. Lisboa: Instituto Piaget, 1992a.

________. Para o uso pragmático, ético e moral da razão prática. Dialética e liberdade. E. STEIN e L. D. BONI. Porto Alegre, Editora Vozes: 288-304, 1992b.

________. O discurso filosófico da modernidade: doze lições. Trad: Luiz Sérgio Repa, Rodnei Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Organização Liv Sovik; Tradução Adelaine La Guardia Resende ... [et all]. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 2013.

HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. Tradução Rosaura Eichenber. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

JAMES. C. L. R. Os jacobinos negros – Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos. Tradução Afonso Teixeira Filho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.

KANT, Immanuel. Resposta à pergunta o que é Iluminismo. In: KANT, Immanuel. A Paz Perpétua e outros Opúsculos. São Paulo: Edições 70, 1995.

MBEMBE, ACHILLE. Crítica da Razão Negra. Lisboa, Portugual: Antígona, 2017.

NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

QUEIROZ, Marcos V. Lustosa. Constitucionalismo Brasileiro e o Atlântico Negro: a experiência constitucional de 1823 diante da Revolução Haitiana. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.

________. Exílio e História: uma perspectiva do ofício do historiador a partir do Atlântico Negro. Revista HOLOS (no prelo). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

ROSENFELD, Michel. A identidade do sujeito constitucional. Trad. Menelick de Carvalho Netto. Belo Horizonte: Mandamentos, 2003.

SCOTTI, Guilherme. Teoria Discursiva do Direito. In: Enciclopédia Jurídica da PUCSP, tomo I: teoria geral e filosofia do direito. Coords. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro Gonzaga, André Luiz Freire. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.

SEMLEY, Lorelle D. To Live and Die, Free and French: Toussaint Louverture’s 1801 Constitution and the Original Challenge of Black Citizenship. Radical History Review. Issue 115, Winter, 2013.

THORNHILL, Christopher. Niklas Luhmann y la sociologia de la Constitución. In: CADENAS, Hugo et al. (eds). Niklas Luhmann y el legado universalista de su teoria. Aporte para el análisis de la complejidad social contemporânea. Santiago: RiL editors, 2012.

TROUILLOT, Michel-Rolph. Silencing the past: power and the production of history. USA: Beacon Press, 2015.

Downloads

Publicado

22-12-2021

Como Citar

Lustosa Queiroz, M. V., & Scotti, G. (2021). DIREITOS FUNDAMENTAIS COMO ABERTURA PARA O PASSADO: DIÁLOGOS ENTRE RONALD DWORKIN E A TEORIA PÓS-COLONIAL. Revista Direitos Fundamentais & Democracia, 26(3), 217–240. https://doi.org/10.25192/issn.1982-0496.rdfd.v26i31520