ACESSO À ÁGUA POTÁVEL COMO UM DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL:

O CASO DE MOÇAMBIQUE

Autores/as

  • Anastásio Miguel Ndapassoa

DOI:

https://doi.org/10.25192/ISSN.1982-0496.RDFD.V.29.III.2836

Resumen

Água é um recurso natural, universal, indispensável à vida humana. Sem ela não há vida. Sendo o direito à vida internacionalmente consagrado e protegido à escala universal, é justo que o direito à água também o seja. O uso sustentável da água pelos Estados inclui a criação de todas as condições para o seu livre acesso, por todos os cidadãos, sem qualquer espécie de restrição ou discriminação, em defesa da dignidade humana. O objectivo geral do presente artigo é discutir como tem sido o acesso à água potável em Moçambique, enquanto um direito humano fundamental. O objectivo específico é analisar e discutir até que ponto o livre acesso à água potável tem sido garantido pelo Estado moçambicano a todos os cidadãos, sem excepção nem discriminação. Propomo-nos responder à seguinte questão de partida: será correcto o Estado moçambicano eximir-se do seu dever de Estado-provedor, assumindo-se como um Estado-empresário? A comercialização de água potável cria dois tipos de consumidores: (1) os das zonas rurais – que se beneficiam de um regime de acesso livre e gratuito ao precioso líquido, e (2) os das zonas urbanas - que estão sujeitos ao pagamento da água que consomem. O presente artigo foi escrito usando uma abordagem qualitativa, mediante uma investigação com fins descritivos e exploratórios, através do método de colecta de dados secundários, isto é, uma ampla observância bibliográfica, documental e legislativa. Concluímos que em Moçambique, a assumpção do papel de Estado-empresário, no lugar de Estado-provedor, limita o livre acesso à água potável, como um direito humano fundamental.

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Biografía del autor/a

Anastásio Miguel Ndapassoa

Doutor em Direito pela Universidade do Porto, Mestre em Direito Internacional Público pela Universidade de Kiev e especialista pelo CEDIN (Brasil). Professor Auxiliar na Universidade Católica de Moçambique, atua nas áreas de Direito, Ciência Política e Relações Internacionais. Autor de obras sobre direitos humanos e colonização portuguesa, tem ampla produção acadêmica em nacionalidade, coesão social e Estado de Direito, com foco em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. E-mail: [email protected]

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Publicado

20-12-2024

Cómo citar

Ndapassoa, A. M. (2024). ACESSO À ÁGUA POTÁVEL COMO UM DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL:: O CASO DE MOÇAMBIQUE. Revista Direitos Fundamentais & Democracia, 29(3), 233–253. https://doi.org/10.25192/ISSN.1982-0496.RDFD.V.29.III.2836